Monday, December 25, 2006

de elefantes, cegos e várias verdades...

É uma estória antiga a dos cegos que descreveram o elefante, baseados na parte que tocaram. Um descreveu algo parecido a um tronco de árvore articulado, outro um tubo longo e flexível, outro uma superfície coriácia enorme. Estavam todos dizendo uma verdade, mas nenhum descreveu o elefante.
Nossas verdades passam pelo mesmo processo: agrupamos as informações a que temos acesso para compor os fatos. Entra aí uma nova variável no processo, a ser computada em conjunto com a cebola de vidro.
Um diretor de cinema, ao compor um filme faz diversas escolhas: a estória, o roteiro, atores, fotografia (aqui considerando iluminação, enquadramento, cores...), edição... O resultado é o que temos à disposição para interpretar e compor o significado.

Esse tipo de composição não é exclusividade do cinema. É mais ou menos como funciona o universo que nos cerca. O tempo todo colhemos dados para compor a informação. São fatos que presenciamos, notícias que ouvimos ou vemos, comentários de outros, fofocas, boatos, tudo tem seu valor para criarmos a nossa verdade.

Precisamos ficar atentos aos dados e informações que nos são repassados por terceiros. Como no exemplo do filme, estão montados de forma a representar a visão do autor. Foram filtrados e compostos por uma ou mais pessoas, orientados por seus interesses e experiências (a cebola de vidro) e não podem ser considerados como absolutos de forma alguma. A pesquisa de várias fontes diferentes, de opiniões diferentes, o uso do bom senso, a contextualização dos dados e informações nos levará a uma imagem mais confiável dos fatos.

Thursday, November 30, 2006

de vidro, cebolas e a interpretação do universo que...

John Lennon criou em 1968 um conceito muito legal, foco de um artigo que escrevi na escola em 1996 ou 1997, não me lembro com certeza. Quando tudo que os Beatles faziam era interpretado por um bando de fanáticos como mensagens cifradas, que resultaram em lendas como a morte do Paul e seu funeral retratado na capa do Sgt. Pepper's, Lennon respondeu com Glass Onion, que fazia pouco da "interpretações" dizendo que o povo via as coisas através de uma cebola de vidro.
É uma imagem interessante para descrever nossa visão do mundo.
Imagine um cebola, com suas diversas camadas concêntricas. Imagina que elas são feitas de um vidro ótico, perfeitamente transparente. Imagine que cada camada representa uma experiência que tivemos em vida, e que a cada experiência, uma nova camada seja adicionada. Imagine que cada camada distorce um pouco o que vemos através da cebola. Imagine que só vemos o mundo através dela.
É isso. Cada uma de nós constrói uma cebola de vidro durante a vida, e é através dela que enxergamos o mundo, a vida, as coisas. É o que garante nossa individualidade. É o que nos faz tão diferentes, ainda que semelhantes. É o que garante a inexistência da verdade universal. É a modificação da "imagem" pela cebola de vidro que nos leva a interpretar os fenômenos que nos cercam de uma forma única. Um filme, ou livro, ou música tem um significado único para cada pessoa. É possível que duas pessoas tenham uma mesma interpretação para um fenômeno ou obra, mas é praticamente impossível que tenham a mesma interpretação para TUDO que as cerca. É o que possibilita termos opiniões, é o que alimenta discussões. É o que nos faz humanos, por mais que a sociedade tente nos uniformizar e massificar.

A inexistência da verdade

Não há Verdade. Essa Verdade com V maiúsculo, única e absoluta. Coitados daqueles que buscam a Verdade, vão voltar sempre de mãos abanando, ou com outra coisa bem diferente nas mãos.
Agrupamos fatos, informações e impressões para compor uma verdade que nos sirva. Não necessariamente calcada em interesses, mas uma verdade subjetiva. Não existe verdade isenta. A verdade leva sempre em conta um ponto de vista e os fatos relevantes, eleitos entre os fatos conhecidos.